"A Cigarra e a Formiga": um conto à Capcom
Fernando Katayama
Da Redação
Em alta o assunto dos conteúdos para download (DLCs) bloqueados em disco, uma pequena parcela da população mundial se dividiu claramente em dois blocos, Capcom e consumidores da Capcom.
O raio-X de cada um: o bloco da Capcom é formado por uma empresa que trabalha produzindo jogos; já o bloco dos consumidores da Capcom é formado, logicamente, por todos os que consomem seus produtos. Ou melhor, que vivem de seus produtos.
Ilustração para o conto "A Cigarra e a Formiga".
Eco. Ou melhor, que vivem de seus produtos. Eco. Ou melhor, que vivem de seus produtos. São os próprios jogadores, que viveriam razoavelmente mal sem seus grandes títulos, mas também são a imprensa, os revendedores, analistas e estudiosos de mercado. Enfim, todos os que mamam nas tetas do primeiro bloco.
É obrigação do bloco da Capcom mostrar ao mundo que seus produtos dão dinheiro, mas que a ideia não é ganhar dinheiro. Trabalhar assim, produzindo para uma realidade que já não comporta mais a ideia de games enquanto arte, e sim enquanto um negócio como qualquer outro, deve esgotar a paciência.
Isso não justifica colocar DLCs bloqueados em disco. Mas que foi divertido, foi. É como se o bloco produtivo desse uma derrapada para todos apontarem o dedo. Uma oportunidade para aqueles que vivem usando e abusando de seus produtos sentirem na pele o que é uma empresa que aceitou sua realidade, que entendeu que fazer arte com games é coisa do passado.
Enquanto a comida vem fácil na boca, é difícil perceber que se está girando dentro de uma roda acoplada no interior de uma gaiola.
Consumidores da Capcom são muito mais do que consumidores. São dependentes de uma estrutura de negócios. Consumir implicaria apenas aproveitar a vida útil de um produto extraindo o máximo de benefícios. Depender é tirar sustento.
Um DLC bloqueado em disco abriu a cabeça dos jogadores para manifestações em fóruns e comentários, rendeu pautas na imprensa sobre o futuro dos games diante das novas formas de se obter lucro nessa indústria e provocou a ira de analistas. Todos os que fizeram parte dessas discussões ganharam alguma coisa, de alguma maneira. Uns pouco, outros muito.
A Capcom conseguiu fazer de seu golpe baixo, sua safadeza comercial, algo lucrativo para todos; e o ganho não precisa ser necessariamente financeiro, pode ser em termos de reflexão também.
É a formiga mostrando para a cigarra que é hora de dançar e a cigarra mostrando para a formiga que vai mesmo dançar muito bem, obrigado.
Cena de Street Fighter X Tekken, game marcado pelo DLC bloqueado em disco.
A Cigarra e a Formiga
Tendo a cigarra, em cantigas,
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema,
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
– Amiga – diz a cigarra
– Prometo, à fé de animal,
Pagar-vos, antes de agosto,
Os juros e o principal.
A formiga nunca empresta,
Nunca dá; por isso, junta.
– No verão, em que lidavas?
– À pedinte, ela pergunta.
Responde a outra: – Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.
– Oh! Bravo! – torna a formiga
– Cantavas? Pois dança agora!
La Fontaine (1621-1695)
Tradução de Bocage (1765-1805)
Ah, já ia me esquecendo, ótima matéria Fernando, arrebentou.
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É onde chegamos. O videogame cometeu o mesmo erro do Rock: Comercializar demais e arruinar seus produtos, gerando decadência na arte e ira dos consumidores. |
É bom que quando o Fernando faz alguma coisa ele Kata Y Ama.
É onde chegamos. O videogame cometeu o mesmo erro do Rock: Comercializar demais e arruinar seus produtos, gerando decadência na arte e ira dos consumidores. |
É onde chegamos. O videogame cometeu o mesmo erro do Rock: Comercializar demais e arruinar seus produtos, gerando decadência na arte e ira dos consumidores.
P.S: Adorei o texto, Fernando. No final só faltou: "Sou Fernando Katayama, Direto ao Assunto." |

